Recrutamento – Empresas só indicam para vaga de emprego se houver pagamento
Nos meses de janeiro, que historicamente registram uma quantidade menor de contratações, uma antiga estratégia de empresas de recrutamento encontra terreno fértil para prosperar. O alvo são os desempregados que, ansiosos por conseguir uma nova colocação profissional, acabam por aceitar pagar pela indicação a uma vaga – que pode nem existir.
O procedimento é quase sempre o mesmo. O trabalhador desempregado divulga seu currículo na internet, com contatos e outros dados pessoais. A empresa então telefona, oferecendo uma vaga e convidando o candidato para uma entrevista. Após o teste, faltará apenas um detalhe para que o trabalhador consiga o emprego: ele terá de pagar pela indicação.
O técnico em eletrônica Paulo Silva Barbosa, de 38 anos, afirma ter passado por essa experiência. Segundo ele, a empresa BR Quality ligou depois de encontrar seu currículo em um site de empregos. “Falaram que havia uma vaga de gerente em uma empresa famosa do ramo de eletrônica, fiquei todo animado”, conta.
Barbosa então compareceu à BR Quality. “A pessoa que me atendeu disse que a vaga era minha, mas que eu precisaria pagar R$ 1 mil para ser indicado efetivamente para aquele trabalho.” Empolgado, Barbosa pagou. “Depois disso, começaram a me enrolar, a dizer que nunca tinham prometido a vaga e sim uma assessoria para eu encontrar outro emprego.”
Barbosa, por estar desempregado, diz que no momento não tem dinheiro para custear um advogado, por isso não processou a empresa. A BR Quality, por sua vez, afirma que Barbosa nunca chegou a assinar um contrato ou pagar qualquer valor à empresa.
Em nota, a BR Quality diz que o contrato que firma com seus clientes tem uma cláusula bastante clara, onde se lê que a empresa não garante efetiva colocação. E esclarece ainda que apenas presta serviços como “elaboração de currículo” e “assessoria na recolocação profissional”, entre outros.
Na opinião de Marcelo Abrileri, presidente do site de recrutamento Curriculum, é correto que uma empresa receba por serviços que auxiliem o candidato no seu processo de busca de emprego. “Na análise de currículo, por exemplo, profissionais com experiência em recursos humanos podem deixá-lo muito melhor”, avalia. “Entretanto, é completamente errado uma consultoria querer receber para indicar um candidato a uma vaga”, declara Abrileri.
Renato Grinberg, do site de recrutamento Trabalhando.com, explica que as empresas que precisam encontrar um profissional adequado para a vaga disponível já custeiam o serviço de consultoria – por isso, o trabalhador recrutado jamais precisaria pagar para ser indicado. “Esse negócio de pagar para ser selecionado para um emprego não é coisa séria”, enfatiza Grinberg. “O que pode existir é auxílio para a pessoa encontrar uma vaga, se preparar para uma entrevista. Mas uma vez achado o emprego, não é ético cobrar pela indicação.”
O advogado criminalista Maurício Silva Leite, do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados, explica que há uma diferença grande entre a empresa que presta um serviço de recolocação e outra que age de má fé, sem que haja qualquer vaga em vista, e cobrando pela indicação. “Neste segundo caso, se houver provas, a empresa pode ser indiciada por estelionato”, diz. A pena para o crime varia entre um e cinco anos de prisão.
Para Leite, “na dúvida, é sempre melhor buscar referências sobre a empresa antes de contratar um serviço ou partir para entrevista”.
O inspetor de qualidade Eugênio Corrêa de Sousa Neto, de 33 anos, agiu assim. Em dezembro, ele recebeu um telefonema da BR Quality, informando que havia uma vaga em multinacional francesa que tinha exatamente seu perfil.
“Fiquei feliz por ser chamado para uma entrevista, pois tinha sido demitido no início do mês”, conta. Mas ao digitar o nome da empresa em um site de buscas, Sousa encontrou vários depoimentos negativos de outros clientes. “Diante dessas informações, não fui na tal entrevista. E eles nunca mais me ligaram.”